A morte de Alcobaça, por eutanásia, vai custar ao erário público mais de 10 milhões de euros, o custo de um fatídico pseudo projecto de Regeneração Urbana, que foi apresentado na Assembleia Municipal no passado dia 24 de Setembro, e a que se deverão somar ainda as coroas de flores das mais que previsíveis derrapagens financeiras.
O termo regeneração poderia levar-nos a pensar num projecto para renovar a zona urbana da cidade, onde abundam muitos edifícios muito degradados e que dão uma péssima imagem desta terra, que se diz de turismo. Mas, o original projecto que vai custar mais de 10 milhões de euros, não dá nenhuma ajuda à renovação de Alcobaça, apenas vai mudar a zona entre o estádio Municipal, Tribunal, Câmara e mercado. Frustrados com a emblemática obra de transformar o largo do Mosteiro num deserto, os nossos autarcas querem sublimar esse pesadelo, ajardinando tudo o que é rua na zona da Gafa com a supressão da Rua Manuel da Silva Carolino (rua da Rodoviária), Rua Judite Neves Vasco (rua do Tribunal) e Av. João Lameiras de Figueiredo (rua dos campos de ténis), que, assim, se transformarão em jardins, vias pedonais e lagos. É como patos que a Câmara nos quer comer, pensando que, alcobacenses e turistas irão ficar muito contentes com os novos jardins e para ali irão fazer piqueniques (de frango e garrafão), no espaço que deveria ser o centro urbano e administrativo da cidade. O senhor presidente da câmara quer que os novos espaços verdes cativem os turistas a permanecerem mais tempo na cidade, pois sabe que não são camelos para resistir à aridez do deserto de Cister.
Além de reduzir as ruas e atrofiar a circulação, este projecto reduz também o espaço para estacionamentos mas cria um fabuloso negócio de parques subterrâneos que irão encher os bolsos das empresas privadas que os irão explorar, e que obriga à introdução de parquímetros em todo o centro da cidade, de forma a permitir a rentabilização da infra-estrutura.
Mas, este original projecto deverá fazer ainda com que o nome de Alcobaça venha a ser registado no livro do Guinness World Records (livro dos Recordes) pelo seu inovador pioneirismo, pois a Câmara quer fazer um primeiro andar por cima do mercado para ali instalar os paços do concelho, atraindo para ali os seus 400 funcionários e os utentes. Será o primeiro município do mundo a conseguir ter no mesmo edifício a câmara e o mercado: peixeirada em cima, batatada em baixo e nabos por todo o lado.
De referir que as explicações dadas, na sessão de apresentação, foram muito esclarecedoras pois é uma ousadia chamar a dois slides um projecto do qual não foram apresentados estudos que possam validar as ideias apresentadas e assegurar a mobilidade de pessoas e viaturas ou garantia de estacionamentos. Ficamos sem ter a mínima percepção de como será possível a conciliação entre os utentes dos serviços de administração municipal e do mercado. Estamos em crer que se esta ideia avançar iremos matar o mercado municipal que devia ser defendido.
Confusa e sem nexo foi a apresentação feita na Assembleia Municipal em que o microfone atrapalhou a falta de ideias expressa numa escassez de imagens com apenas dois slides. A imagem sem clareza foi explicada também sem clareza, primeiro pelo presidente da câmara, e depois pelo arquitecto autor do projecto. Pareciam o “pete” e o “repete” em que um disse nada e o outro a mesma coisa. O presidente da Câmara deveria ter-se centrado nas justificações políticas, mas com medo de perder os galões, enveredou pela explicação das opções técnicas. Seguiu-se o arquitecto, que disse o que já estava dito sem nada acrescentar. Primeira grande conclusão: ambos deveriam frequentar uma acção de formação sobre como fazer apresentações em PowerPoint. De gestão municipal viu-se nada.
Esta apresentação sem debate, demonstra o desinteresse com que os membros da assembleia olharam para o tema. O público, por seu lado, esteve-se a borrifar para a original ideia, tão farto que está deste tipo de disparates com que os políticos impõem aquilo que ninguém quer.
Como se não bastassem estas desgraças ficamos com a sensação de que andamos a brincar ao “faz de conta”. Faz de conta que é um projecto, mas eram só dois slides. Faz de conta que é um projecto de futuro para Alcobaça, mas não é. Faz de conta que a obra se vai fazer, mas para isso é preciso atirar muita areia para os olhos dos decisores da CCDR, porque esta “originalidade” dificilmente será financiada pelo QREN. Enquanto isso os técnicos ganham a fazer estudos e projectos e os políticos falam umas coisas …
Parece que somos um concelho rico, num país abastado que a crise não afectou onde não se faz o que é preciso, mas gasta-se dinheiro em coisas inúteis e até prejudiciais que apenas fazem vista.
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