Copiar e imitar são sentimentos bem vincados na mentalidade alcobacense, um hábito que devemos ter herdado dos monges copistas, e que nos leva a comportamo-nos como meninos birrentos e se o outro menino tem eu também quero. Só isso pode explicar que a Câmara de Alcobaça venha agora reivindicar um Museu da Língua Portuguesa, semelhante ao existente em São Paulo, no Brasil.
A ideia de trazer um museu da língua para Alcobaça já é requentada, mas voltou de novo à ribalta com o executivo a reclamar legitimidade histórica para possuir um equipamento deste tipo. Resta perceber que o Museu da Língua, de São Paulo, não é um museu convencional onde se expõe um qualquer espólio do passado, nem sequer livros antigos ou modernos, mas um espaço inter-activo onde predominam as tecnologias de imagem e comunicação. Consequentemente qualquer localidade tem hoje legitimidade para pedir um equipamento desta natureza.
Se Johannes Gutenberg não tivesse inventado a máquina de impressão que permite a rápida divulgação de livros e jornais ainda hoje teríamos os monges a copiar livros no mosteiro de Alcobaça, mas nesse caso ainda estaríamos na idade média. Também ao nível das ideias deveremos ser capazes de inventar e inovar novas reivindicações. De facto em São Paulo, cujo lema da cidade é “não me deixo conduzir, conduzo”, a invenção e a ousadia levaram ao aparecimento do Museu da Língua. Ideal seria que Alcobaça não se limitasse a querer um museu da língua porque São Paulo também tem um, mas que fosse capaz de criar uma ideia inovadora ou renovada de algo a fazer em Alcobaça.
Argumenta ainda o executivo camarário que se “estivermos todos unidos” “basta sensibilizar o estado” para que a pretensão se possa concretizar. Provavelmente por falha minha, não vi em lado algum a informação de que o estado tenha um equipamento destes pronto a instalar num qualquer recanto do país. Mas, também duvido que em tempos de crise como a que afecta o mundo actual, existam verbas e fundos de financiamento disponíveis para um equipamento desta natureza. De referir que o referido museu de São Paulo representou um investimento de 14,5 milhões de euros.
Falacioso é o argumento dos possíveis retornos que este equipamento poderá trazer tomando por base os 1,6 milhões de visitantes que o Museu de São Paulo teve nos três primeiros anos de actividade. Nesta comparação, alguém se esqueceu que São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil, da América e de todo o hemisfério Sul, a sexta maior cidade do planeta e a sua região metropolitana conta com 19 223 897 habitantes, é a sexta maior aglomeração urbana do mundo. A população de todo o distrito de Leiria não atinge sequer um décimo desse valor populacional.
Será que alguém está convencido que o pretenso museu exercerá mais atractividade do que o Mosteiro Património da Humanidade e à volta deste a Câmara têm desenvolvido pouca ou nenhuma dinamização.
A proliferação deste tipo de notícias é a areia que nos atiram aos olhos para nos desviar da falta de obras no município e assim nos vão entretendo. Parafraseando a canção, presumo que estas inovações “são conversas ouças, faz orelhas moucas, não te deixes enganar”.
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