sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Orçamento de Estado ou leviandade política

Leviandade política é a única expressão que consigo encontrar para classificar o impasse que se vive em relação à viabilização do Orçamento de Estado para 2011. A questão não se coloca apenas na rotura das negociações entre PS e PSD, é mais profunda do que isso. Prende-se com a profunda degradação do sistema político em que cada um destes maiores partidos apenas busca os seus interesses: o poder.
É relevante notar que as negociações que estavam em curso não se destinavam a gerar um Orçamento de entendimento entre os dois partidos para bem do país, destinavam-se apenas a criar condições para que o PSD se abstivesse e assim permitir à aprovação de um orçamento, dito menos mau. É esquisito que se façam negociações para ter um orçamento menos mau. Se o PSD não se revê e não vê nenhuma vantagem no orçamento que quer condicionar, então para que andam negociar? Deveria votar NÃO!
Se o PSD não vai votar a favor do Orçamento revisto e se quer que o Governo do PS se queime tanto se dá que se queime com um orçamento muito mau, mau ou menos mau. Se não estivesse aqui apenas uma luta pelo poder, na qual o PSD quer queimar o país em lume brando para depois emergir como salvador, o partido de Passos Coelho teria apontado todos os malefícios do Orçamento, e diria que iria escolher o mal menor, e que, por isso se iria abster para não gerar uma crise política. Não foi esse o caminho.
Andaram a brincar com a política, com o país e apenas conseguiram aquilo que seria previsível -que os mercados internacionais que já estavam de olho em nós- ficassem ainda mais atentos. O que se conseguiu com este número de circo foi conseguirmos ser notícia na imprensa internacional. O jornal alemão “Handelsblat” refere em título “oposição trava pacote de austeridade”, para pouco depois classificar isto como um retrocesso no combate à crise. Iguais referências surgem também, por exemplo na edição alemã do “Financial Times” ou do “Frankfurter Allgemeine”.
Acredito que o orçamento seja mau, ou mesmo muito mau, pois obriga sacrifícios para todos os portugueses, entre os quais não se contam os políticos de todos os partidos. Fiquei sem perceber quais eram as medidas do PSD para conseguir um bom orçamento para o povo, -que teimam em chamar como sociedade civil-, e que também este se habituou a viver à tripa forra numa casa mal gerida. O PSD não podia ser claro, pois se fosse claro teria que apresentar medidas que seriam outras, mas seguramente também duras.
O objectivo deste impasse serviu para empolar a crise, e torna-la publicamente muito visível. Até foi necessário reunir o Conselho de Estado. Claro que no último dia o PSD, preocupado com o país, vai viabilizar o Orçamento. É claro que o PSD está a saber utilizar muito bem mediaticamente este assunto, e assim vai crescer aos olhos da opinião pública. Do outro lado, está o PS que tem que gerir a crise, e os muitos problemas onde está enredado e que está sem capacidade de comunicação política e consequentemente baixa perante a opinião pública. Final da história: o PSD está a construir o caminho curto para chegar ao Governo. Por razões constitucionais não pode ser já. Mas, em Março ou Abril, o PSD votará uma moção de censura ao Governo de Sócrates e vão seguir-se as desejadas eleições que darão uma maioria ao PSD.
O impasse em torno do Orçamento de Estado foi a arma de promoção que o PSD está a saber utilizar muito bem para chegar ao Poder.

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